O QUE OUVE, 2020
Instalação sonora e performance vocal em 5 caixas de som, 10 impressões em papel 125cm X 125cm, frente e verso.
Lenora de Barros (São Paulo, SP, 1953)
Com uma trajetória artística iniciada na década de 1970, época de intenso experimentalismo na arte brasileira, de tendência construtiva e vanguardista, Lenora de Barros usa as palavras e as imagens como matéria constitutiva de suas pesquisas e para a construção de seus trabalhos. Integrando inicialmente o campo da “poesia visual”, a artista, há algum tempo, percorre outras linguagens, entre elas a performance, o vídeo e a instalação sonora. A dimensão do espaço sonoro no trabalho de Lenora acontece a partir da passagem da palavra escrita para a performance, e com uso da própria voz, algo que passa a acontecer, segundo a artista, por volta dos anos 1990. Desde então, Lenora vem produzindo obras que utilizam a poesia sonora. Vale destacar, dentro dessa produção, a instalação Ácida Cidade, de 1994, produzida para a mostra Arte Cidade — a cidade e seus fluxos. Na obra, bolinhas de pingue-pongue, que ostentavam a frase “a cidade oxida”, caíam do teto acompanhadas de oralizações enunciadas com a voz de Barros.
O QUE OUVE foi criada especialmente para a 10a Mostra 3M de Arte – Lugar Comum: travessias e coletividades na cidade a partir de uma produção poética transformada em performance vocal. A obra, que tem tratamento sonoro do músico e compositor Cid Campos, em sua primeira montagem, no Parque Ibirapuera, era constituída de cinco caixas de som dispostas pelos postes alinhados sobre a grama, quase como se determinassem uma trilha a ser seguida. O caminho culminava em uma plataforma de pouso em formato circular, na qual inscrevia-se o título-poema: O QUE OUVE. Enquanto as caixas de som ecoavam trechos distintos de um texto poético, um drone sobrevoava uma área previamente determinada. Dotado de um alto-falante, esse equipamento de voo emitia outra construção poética, escrita e gravada pela própria artista durante o período de quarentena. Nesta construção sonora, Barros usou sua própria experiência de isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19, como combustível, além do pensamento do artista e teórico musical John Cage, inspirada especialmente pela passagem: “O mundo se transforma em função do lugar onde fixamos a nossa atenção. Esse processo é aditivo e energético”, retirada do livro For the Birds, de 1981.
Ao articular a dimensão atencional e sua influência na transfiguração do significado preestabelecido das coisas, a artista acabou por converter o drone em um objeto polissêmico. Ao mesmo tempo que esse equipamento realiza um diálogo intenso com a questão da vigilância e do controle e remete às sensações de isolamento e desorientação que têm nos afetado, ele também é um mecanismo literário que, ao ocupar este espaço aéreo, o metamorfoseou, tornando-o lugar da poesia.
Agora, em 2021, o trabalho está fazendo parte de um roteiro de itinerância que leva alguns trabalhos da 10ª Mostra 3M de Arte para novos espaços. Instalado na estação Alto do Ipiranga do Metrô – Linha 2 – Verde, a instalação tem sua forma adaptada ao seu entorno. Cinco caixas de som dispostas em um trajeto linear, de forma quase imperceptível aos olhos, ecoam trechos distintos do texto poético. Neste mesmo percurso, 10 painéis impressos, frente e verso, inscrevem o título-poema: O QUE OUVE.
Instagram: @ledebe / @mostra3mdearte
Site: mostra3mdearte.com.br
Artista: Lenora de Barros (São Paulo, SP, 1953)
Fotos: Karina Bacci
Produção: Elo3 Integração Empresarial
Patrocínio: 3M
Apoio: Linha da Cultura