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SER DIRETOR: UMA VIAGEM POR 30 ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS
Tão logo fui convidado pelo Instituto Unibanco para esse desafiante projeto de documentar o ambiente de 30 escolas públicas em seis estados, comecei a rememorar meus tempos de estudante de escola pública. Cursei o primário e o ginásio na EE República do Paraguay, no bairro de Vila Prudente, na capital paulista, e o colegial na EE Professor Américo de Moura, no mesmo bairro. Em ambas as escolas sempre optei por sentar-me no fundo da sala de aula e próximo à janela. Dessa posição eu podia enxergar a todos na sala e ter uma visão privilegiada do mundo externo, que me chegava sempre no contraluz. Em determinadas épocas do ano, durante as primeiras horas da manhã, a luz do sol ao entrar na sala de aula desenhava no chão a sombra de todos que estavam próximos à janela. Conforme avançavam as aulas, a sombra caminhava lentamente para fora.
A memória da criança e do adolescente que gostava de olhar diretamente para a fonte de luz, ficou mais intensa quando visitei a primeira escola desse projeto, em Belém do Pará, e me deparei com os raios de sol da manhã atravessando as salas de aula, por vezes recortados delicadamente pelos cobogós da arquitetura que ventilam esses espaços.
O fotógrafo, agora adulto, fez uma analogia com o Mito da Caverna, de Platão. A sala de aula seria, então, a caverna na qual os estudantes se encontram com o intuito de ganhar forças para se libertar das correntes que os aprisionam, obrigando-os a olhar apenas para a parede - metáfora do senso comum para o filósofo. Libertos, eles podem finalmente deixar de perceber o mundo pela ilusão das sombras e olhar na direção da luz, vivenciando o mundo exterior com visão autônoma e crítica. A luz é o saber.
Logo, o caminho conceitual e estético para a realização do ensaio fotográfico, e também dos textos escritos a partir das entrevistas com os diretores, surgiu a partir da negociação entre o que a criança e o adolescente intuíram quando estudantes e aquilo que o adulto pode agora refletir. Agradeço, portanto, a todos os professores que tive nessas escolas, pois eles me deram instrumentos para romper com as minhas próprias correntes.
Eder Chiodetto