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3 é 5

A luz vermelha pelo lado de fora do casarão anuncia que o dia ainda não amanheceu. Homens e mulheres começam a montagem da grande ópera, diária, incansável, chova ou faça sol, dia santo ou feriado. Quando o dia amanhece, o espetáculo está pronto. A feira grita: “três é cinco”, “sete é dez”, assim mesmo, como se o singular fosse a primeira língua e o plural perdesse o sentido em um idioma que não incomoda ninguém. Nas feiras, por entre ruas e becos todo destino tem um preço, um valor, um suspiro, uma mentira, uma verdade guardada em cada sacola. Toda mercadoria é sagrada, tem cheiro, arde, seca, sangra, transpira como a pele de cada um daqueles homens e mulheres que acordam às três horas da manhã, acendem a luz, beijam os filhos e partem para a grande ópera pandêmica, com ou sem máscara. Lá, a câmera da fotógrafa silencia. Enxerga por fora e por dentro: é olho de vidro, respira, transpira, é “outro”, aquele que está adiante. Tudo ao vivo. Nada online. Em cada uma das imagens todos passam, encontram-se, são recortados pelos tempos da chuva e do sol. Toda imagem é uma sina, um caminho de volta para dentro dos olhos de quem a vê. Os de fora passam a ser os de dentro. Feira é resistência, fluxo, natureza em festa.

Fotografias: Dani Tranchesi
Curadoria: Diógenes Moura
Instagram: @danitranchesi / @moura.diogenes / @41_estudio