Identidades - 1822,1922, 2022 apresenta um grande desafio, que é abordar, por meio das 100 obras reunidas, os contextos social, cultural, econômico e político, nos períodos e ambientes em que viveram - e vivem os autores, procurando revelar fatos e mitos da historiografia brasileira em três séculos de transformação, da tradição à modernidade.
Por onde começar?
A nossa proposta de interpretação da arte aqui selecionada e exposta, é ver a pintura, o desenho, a gravura, a escultura, o poema, e ouvir o som da música, como algo que revela abertamente o processo das práticas artísticas, mas também como representações que resultam de diversos aspectos sociais, seus personagens e as bases sobre as quais a história de duas celebrações fundamentais para a construção “das identidades” no Brasil se apoiam: em 1822, a Independência política, e em 1922 a Semana de Arte Moderna, uma referência do Moderno nas artes e na cultura brasileira.
Longe de esgotar as fronteiras das questões do que significa o Moderno na arte e de sua relação com a identidade nacional, esta exposição de obras do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e da coleção Santander Brasil, está distribuída em quatro andares do edifício Altino Arantes, Farol Santander, um bem imóvel reconhecido pelo patrimônio histórico de São Paulo e ícone da cidade. O roteiro de visita tem início no andar térreo, depois sucessivamente o 24º, o 23º e o 22º andares.
Há um percurso que nos leva às portas do Moderno. Esse percurso tem início com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil. Nenhum outro país, até então, havia experimentado deslocar a sede do governo da metrópole para a colônia: há alguma coisa de inovador nessa decisão. Vieram 60 mil livros deslocados da Biblioteca Real Portuguesa. Assim fundou-se a Real Biblioteca Brasileira, hoje Biblioteca Nacional do Brasil. Para a difusão das artes e da arquitetura foi trazida para cá a Missão Cultural Francesa, encarregada de fundar e difundir o ensino e a prática das artes maiores em nossa terra, chegando com ela os viajantes estrangeiros, dedicados a documentar o que viam e como se compunha a sociedade aqui formada.
Mas os nossos viajantes também buscaram conhecer as belezas do desenvolvimento e os benefícios da revolução Industrial. Trouxeram dessas bandas muitas novidades e ouviram muitas vezes a palavra República, apesar de sermos os últimos a proclamá-la e os últimos a abolir a escravidão na América. Primazias de cabeça para baixo!
O período sucessivo à instalação da Corte Monárquica no Brasil, que se estende de 1808 a 1889, data da Proclamação da República, compreende 90 longos anos, quando o Brasil começou, até por necessidade, a se conectar como mundo industrializado. Nesta exposição, as referências à cultura do café são ilustradas por meio de obras que mostram a riqueza trazida pela economia do café, que transformou a cidade de São Paulo em uma metrópole moderna.
Pronto, o mundo novo chegou aqui, também nos braços dos imigrantes junto com a nova mão de obra especializada que substituiu a escravatura que minguava, mesmo com a resistência imposta pelos barões do café que temiam perder seus lucros. A liberdade dos povos negros e indígenas venceu. A República.
Mais um andar ainda, espera-nos com “Um Passeio na Avenida Paulista”, um corredor com ícones das duas coleções, - Acervo dos Palácios e Santander Brasil, e a metáfora da avenida vai nos conectar com a imensa diversidade de expressões artísticas contemporâneas.
Ana Cristina Carvalho
Carlos Augusto Mattei Faggin
Curadores da exposição